Depois de muitos anos de vivências somente no meio musical o destino me pôs em simbiose com o meio teatral. O teatro é como a música erudita, quem aprecia constantemente é um público seleto que quase sempre tem cultura e conhecimento. Há também pessoas que vão a uma peça porque querem ver algum ator específico, e nesse caso provavelmente esse ator já trabalhou em televisão.
Na minha experiência em particular tenho visto que o assunto quase sempre gira em torno de signos, relacionamento, corpo, trabalho (peças, castings, fotos, etc..), eventos e cultura em geral. É um meio competitivo como qualquer outro. Quando um elenco é selecionado a convivência torna-se inevitável e as personalidades obrigatoriamente se adaptam a fim de se extrair o que é necessário para dar vida às ideias sugeridas no texto em questão.
No decorrer o que se vê é algo interessante, uma dança tácita e cuidadosa onde os envolvidos fazem o possível para manter a civilidade e boa educação, mesmo havendo um clima competitivo (também resquício do processo de seleção) e de intensa energia que num primeiro momento não está muito bem canalizada. Ainda que nem todos trabalhem com os mesmos objetivos e enxerguem o significado do que é cultura de formas diferentes, há a certeza que algo interessante e construtivo está sendo feito.
O ator tem várias semelhanças com o músico no que diz respeito ao ego. Mas eles extrapolam na demonstração das emoções, obviamente buscando na realidade, material para usar em cena. Tudo é incrível e magnânimo para um ator iniciante e alguns deles conseguem fazer o que no fundo todos sentem vontade, mas não tem coragem. A observação desse talento de exagerar nos sentimentos que são comuns a todos nós, invariavelmente me leva a repensar o porquê do padrão vigente de comportamento na sociedade.
Não farei conjecturas do que nos impele a reprimir muito do que sentimos e não lutar pelo que acreditamos e/ou pelo que está errado no nosso planeta. Minha paciência para discursos vãos e revoltosos se esvaiu no início dos meus vinte anos, hoje prefiro tentar transformar de forma gradual e pacífica através do que faço e acredito, logicamente dentro do possível nesse mundo que já estava corrompido antes de eu nascer.
Dessa experiência nova procuro absorver essa atitude extrovertida essencial para os atores, que será imprescindível em novas empreitadas a que estou me propondo nessa fase da minha vida. Todo mundo tem um papel nesse mundo antagônico, somos protagonistas da nossa própria história e escolhemos o nosso roteiro dentro de normas pré-estabelecidas e traçadas por feitos de grandes e também de medíocres personagens.